Você morava numa estrela. Bem no meio do céu. Era lá o verdadeiro Éden, você sabe.
Tinha tudo, e tudo o que te rodeava era bom. Bom de verdade, pacífico, doce, bonito, assim como o Sol preenchendo uma casa clara todas as manhãs. Um Sol por entre as brechas da copa da árvore daquela esquina, visto de baixo. Assim como a maciez de uma lembrança dourada da infância ou do melhor momento de sua vida.
"O essencial é invisível aos olhos" - será que esta frase, mais do que com o significado de os pequenos gestos e os queridos e bons sentimentos são o que valem, será que ela também se aplica ao que está longe, ao que foi-lhe usurpado de uma hora pra outra? Será, Pequeno Príncipe, que você, sua rosa e seu astro se encontrarão, ao mesmo tempo, um dia?
Você diz que não vai voltar, e isto arranca-me suspiros dolorosos.
Sou uma rosa sem raiz. E quando olho para sua estrela e para seus contos sobre ela, sinto que o que é meu também está lá. Porque foi assim que imaginei que fosse meu astro-casa. Meu coração fica quentinho só de brincar de ver suas memórias como se também fossem minhas, mas ele ferve por lembrar que você se exilou (e, consequentemente, eu também).
Como vou me fixar e dar vida a novas rosas companheiras sem minha raiz? Aquela que nunca tive e deve estar perdida na sua casa? Se você mesmo diz que não tem mais volta...
Acredite, eu consigo imaginar a sua dor. Consigo compartilhar da sua saudade.
Como posso sentir saudade por algo que não conheci? Não sei. Nem o revolucionário sabia. Mas eu consigo. Eu sinto. Eu sei sentir. E isso me faz murchar.
