7.7.10

Matheus

Aquele bairro já não é mais o mesmo. E só não é silêncio puro porque alguns ainda cochicham pelos cantos sobre o mesmo assunto: Matheus.
Aluno típico, daqueles pimentinhas que sabem se comportar quando é necessário. Com um irmão gêmeo não muito parecido, e um irmão mais velho aplicado nas notas.
Se enforca.
Não morre. Ainda.
Boatos dizem que após uma briga familiar, Matheus vai para o quarto, pega uma gravata e se pendura na beliche. Já não é a primeira vez.
Gabriel, seu gêmeo o encontra (lembrando que são os cochichos que afirmam isto). É levado ao hospital mas não resiste.
13 anos.
O que faz esta criança cometer suicídio? UMA CRIANÇA! Não sei de toda a verdade nem quero ser dona da razão, mas muitos concordam comigo que há algo errado na família. Porque ninguém toma decisão tão drástica, ainda mais nesta idade, por um assunto qualquer. No mínimo era maltratado em casa, verbalmente ou não.
Ontem Matheus foi protagonista de meus pensamentos (deveria ser eu mesma, já que foi meu aniversário), fui praticamente sua professora. O via todos os dias esperançoso em usar a internet no Laborátorio de minha responsabilidade. Nem sempre deixava ou era carinhosa com ele, pois existem regras e limites. Mas sabia que era um bom menino, gostava dele.
A última vez que o vi foi semana passada se não me engano, o ajudei a destravar o computador. 
Não participei muito de sua vida mas fiquei dolorida por ele. E ainda estou, por ver professores criando teorias sobre o motivo (o qual também estou criando), tentando não comentar, falando baixo como se fosse imperdoável falar normalmente. Mas o pior é ver sua foto sendo multiplicada em sites por aí, "LUTO" aparecendo em perfis de desconhecidos ou menos chegados. Quantas pessoas que o maltratavam não estão fazendo isto agora? Pessoas que nem sabem seu nome, só ouvem do vizinho e repassam como na brincadeira "Telefone Sem Fio" e não dão a menor importância ao acontecido, e na verdade só querem popularidade ao falar do assunto. É isto que me mata. A HIPOCRISIA destes papa-defuntos. Foi a mesma coisa com aquela oriental atropelada na avenida.
Papai me surpreendeu ao deixar escapar lágrimas e frases de lamento, acendendo uma vela e pedindo à Deus que Matheus siga em paz, a paz que não encontrou aqui.
É o que espero. Matheus fez isto basicamente por não aguentar este mundo estranho e sádico em que vivemos. Este mundo egoísta, capitalista, invejoso e irado. E não acho isto uma covardia. É muita coragem tomar uma decisão drástica, uma decisão onde não se pode voltar atrás. Teve coragem de pagar o pedágio de um caminho desconhecido, obscuro e totalmente às cegas.
Pela sua coragem, seu sofrimento e sua busca de um lugar melhor, Matheus, lhe ofereço estas palavras. Não posso dizer que te amo, que sempre te adorei porque estaria sendo pouco sincera. Mas sempre senti um carinho por você, nunca tive nada contra.
Se lembra que me chamastes de "Bela a Feia" uma vez? Sempre fora um elogio e guardo aquela conversa com carinho desde que ela aconteceu. Fica com Deus, menino.
Baby, essa estrada
é comprida
Ela não tem saída
É hora de acordar
Pra ver o galo cantar
Pro mundo inteiro escutar
"Cachorro-Urubu" - Raul Seixas
 Tantas palavras de Raulzito se encaixam com a situação...

2 comentários:

  1. ahhhh a gente nunca para pra refletir sobre essas coisas
    bela reflexão
    Gostei daki
    tô seguindo :D

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  2. heey, adorei, obrigado por seguir meu blo viu? Adorei aqui, rs!

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