Lembro-me da vez que fui à Argentina - passeio rápido na cidade da fronteira. Era passeio de escola, que fora premiada por reciclagem. Estava na 6ª série na época, e tudo bem que eu já era grandinha pra entender as coisas, aproveitar a viagem pra Foz do Iguaçu e etc, mas até hoje não me caiu a ficha. Foi uma coisa que eu nunca pensei em fazer, sabe? Mas não é disso que eu vim falar aqui. Tem a ver com a Argentina sim, mas não com minha passagem rápida por lá.
Tem a ver com irmãos de revolução e ideais. Dois países latino-americanos semelhantes, ao mesmo tempo amigos e rivais. Quem não conhece o Brasil pensa que sua capital é Buenos Aires. Quem não conhece Argentina diz que argentino é metido a besta e não sabe perder. Tolice! Balela! Mas esses dois irmãos tem mais semelhanças. Muitas mais. Ditadura militar, desigualdade social, cinema, revolucionários preocupados com o povo à sua volta.
Ernesto e Raul. Conhecem? Dois homens que na minha opinião foram gênios políticos, muito corajosos e perspicazes. São exemplo de luta por um mundo melhor. Um, revolucionário ativo, de guerra, de luta direta contra o governo capitalista que só promove desigualdade e pobreza. Outro, fez sua revolução com as palavras, com melodia, com graça. Não se calou nem quando era assunto de vida ou morte. A Mosca na Sopa que perturbou o sono de muito político pela década de 1970 e 1980. Dois revolucionários que iam contra a massa e não tinham vergonha nem medo de mostrar quem eram e pra que vieram. E não tenho como agradecer.
Como disse, passeava por blogs alheios quando achei esse da menina da Argentina. E tinha uma imagem de um ônibus.
Cada persona es un mundo.Na hora me veio à mente a música Meu Amigo Pedro do Raulzito. Uma música que ouço desde pequena porque papai acha engraçada e bem escrita - mesmo assim desconfio que ele não a entenda de verdade. O trecho em questão fala assim:
Cada um de nós é um Universo.Daí eu, que sou cheia das teorias aditivas, junto A+B (e o alfabeto inteiro), fiquei matutando. Dois barbudões, dois exemplos para mim, dois machos (no sentido de não fugir da raia), dois caras que se importaram de verdade conosco, que morreram quarentões (mesmo que o modo fosse absolutamente diferente), dois irmãos latino-americanos, que além de tudo nasceram em países também semelhantes... Isso quer dizer alguma coisa! E isso é o que eu ainda não descobri, e provavelmente não descobrirei. A frase do ônibus não era de Che, mas Che era daquele país. Não entendem onde quero chegar, né?
O ponto é o orgulho e a admiração que eu sinto. Tanto que nem que eu quisesse eu escreveria um texto bom de verdade que chegasse aos seus pés. Fico com este daqui mesmo, porque sou humana errante e inexperiente. Mas fica contido o meu amor por eles e por anônimos que seguiram o mesmo caminho. Que não tiveram medo de cara feia, de vaia, de armas de fogo ou armas de qualquer outro material físico, mental, abstrato ou o que quer que seja.
Ver que dois revolucionários parecidos, e que dois países parecidos têm suas coisas parecidas, só me leva a crer que isso é mais que uma verdade, é uma lei. Sim, cada um de nós é um universo, com toda uma organização, onde pegamos verdades daqui e dali, e montamos a nossa, acreditamos e vivemos disso. Então, já que cada um de nós é um universo, com ideias e opiniões diferentes, como já diz a música, não me critique como eu sou.
Outra prova de que tudo isso faz sentido mesmo que você não entenda e me chame de careta, utópica ou sonhadora, até mesmo sem nexo: no dia seguinte achei imagem de Raul vestido de Che, e ouvi um pedaço de um show no qual ele falava de censura. Fico por aqui, porque senão escrevo um livro com todas as similaridades de todas as suas músicas com vários outros pedaços da História. Termino esse post deixando as imagens e frases marcantes desses dois garotos sonhadores que só queriam justiça. Atenção! Terminando o texto lembrei de uma música que CASA DE PAPEL PASSADO E INTRANSFERÍVEL com tudo o que eles e eu dissemos. O vídeo também ilustra bem toda a sensação de onde quero chegar, além de ser de certa forma cômico. Vejam que não se arrependerão.

“Olha aqui, esse show, essa pequena amostra, uma amostra compacta de alguns rocks, no tempo de 50 e dos primordios, mas eu vou incluir um meu aqui, que pediram, é o Rock das Aranhas. O célebre… O célebre, vocês sabem, que existe, um dicionário, que saiu agora, chamado ‘dicionario da censura’, o dicionario da censura é o seguinte: todo compositor brasileiro tem a obrigação de receber um dicionário dessa grossura assim, com todas as palavras proibidas. Inclusive, uma palvra proibida, eu não sei porque, é…é, povo, gente, universidade… escola. Não pode se falar em música, inclusive pintou a palavra aranha depois de mim… Eu fui o percursor da aranha (risos)… Depois de Deus”

"Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário"
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