1.4.12

O que eu quero de mim?

Me encontro em total desencontro (creio que esta frase já seja de alguém). Bem assim mesmo, dessintonizada de mim, correndo atrás do que o mundo me exige. Correndo tão descompassada que só tropeço em certos pontos, e em outros me pergunto se não já caí. Não me vejo me erguendo ou me reerguendo. Creio que neste ponto já desfaleci, já tive hemorragia na memória e coma nos sentimentos.
O mundo me parece cinza e velho, quebrado e empoeirado, com teias tão espessas que não sei se podem ser arrancadas da beleza que já foi.
Passo horas presa dentro de caixas, caixas de diversos tamanhos com diversos bilhetes de obrigações. Até me comunicar, me expressar, é uma obrigação nesses momentos, e o que mais quero é quebrar estas paredes frias e duras. Quando as abandono, me sinto perdida nos afazeres e acabo fazendo coisa nenhuma, me lamentando em cada tempo, seja passado, presente ou futuro. Me lamentando por perder tanto tempo, do tempo que justamente me esforço e imploro e me humilho para ter.
Nada mais é tão doce, nada é mais doce do que aquelas lembranças antigas e irrecuperáveis, impossíveis de continuar. Nada é mais tão colorido e significativo, tão matutino e com sabor de café com leite e ar puro.
Tento me encontrar nas artes, assim, de maneira autodidata. Mesmo assim é tão mínimo o meu esforço, ou o meu resultado! Meus textos, me dão desgosto. Meus desenhos têm prazo de validade para exibição. Não sei tocar, e mesmo que tente, tento tão pouco que sinto pena de mim. Não canto, porque desconheço minha voz. A uso para brincadeiras apenas. Queria viver de artesanatos. Mas nunca finalizo nenhum. Ou por falta do precioso tempo, ou por puro desinteresse.
Vivo então consumida pelos prazos, pelos medos, pelas pendências. Correndo em busca de um fim de ciclo. Mas se este for o último, ou pior, o único ciclo?
Me cubro de promessas a mim mesma, que sei que provavelmente não vou cumprir.
Essas certezas do nada feito ferem. Ferem tanto que tentar fazer para curar apenas abre mais a ferida.
Espero não ser consumida pelo caos. Porque ele já abriu as portas para mim e creio que já pus o pé na soleira.

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