16.1.13

que se desenvolve gradualmente

(Prog)ressivo
(Leia ouvindo a obra que me inspirou)
Aubade And I Am Not Like Other Birds Of Prey by Supertramp on Grooveshark
O que posso dizer sobre o (rock) progressivo é que ele ultrapassa os limites musicais. Não é apenas som ou divertimento, mas uma estrutura complexa e em construção constante, o que explica tantos experimentos, de sons vindos dos mais inimagináveis objetos e/ou indivíduos utilizados como instrumentos. O som, erudito e, por que não, desregrado, remete às mais primitivas sensações, trazendo à tona cheiros e sensações de lugares virgens de qualquer tipo de vida humana ou social. Os ecos dos sons no espaço tido como infinito e desapressado, que abraça qualquer forma e qualquer tipo, como uma grande mãe protetora e doadora de liberdades.
Não é um som "divertido", um "hit do momento", é um experimentar a vida, caminhos, situações, uma luta, uma canção de amor, um ode a algo ou alguém. Tão grandioso quanto o vapor saído dos vulcões de Pompéia, ou do vento dançante nas pilastras gregas que abrigaram tantos filósofos e artistas jamais esquecidos por sua grandeza. Tão sublime quanto o canto da flauta doce do medievo, abandonado por Deus e comandado pelo medo constante da morte entre guerras e saques, ou a imposição de ditaduras que descolorem a vida de um ser humano, que abriga seu único sopro de liberdade em canções instrumentais de vários minutos e vários acordes.
É a sensação de uma vida nova, uma vida começada agora, feliz e infantil, colorida como um quadro em aquarela, óleo ou pastel. Um mar de esperanças aquecidas pelo sol matutino e pela brisa fresca do ocaso. É morte de uma realidade de pedra e a vida e/ou nascimento de um novo mundo, desprovido de egoísmo e individualidades. Apenas um mundo sonoro e multicolorido abrigando múltiplas verdades igualmente importantes entre si, um mundo sem passado, presente ou futuro, mas uma junção simultânea entre todos os tempos e espaços. Uma sobreposição de dimensões. Não saberia descrever tão bem como a autora do livro O Jardim Secreto que, há tantos anos lido, nunca pude esquecer da mágica das flores renascendo e trazendo vida àqueles personagens tão frágeis e intocáveis. Nem tão bem como os românticos e sua poesia às amadas virgens e frias em seus túmulos, em vida ou em morte. Tampouco descreveria aqui a beleza desses sons como Wilde o fez com o excelentíssimo jovem Dorian Gray. Pra entender basta ouvir. Ouvir sozinho, em silêncio, com o coração aquecido como uma clareira que deixa o sol sutilmente passar por entre os galhos das árvores. Como uma tarde quente primaveril, após uma leve garoa que evidencia o verde da natureza.
Pra ser prog tem que ser um pouco da criança que já se foi ao pintar árvores e montanhas com giz de cera. Tem também que ser um pouco tido ao amor grego ao saber por si só, ao conhecimento por ele e não por nada além. Um pouco erudito, um pouco inocente, um pouco raivoso, de tudo um pouco. Sabedoria e ignorância, a boa ignorância, com gosto de mel.
É puro, apenas.
Imagens do google editadas e unidas por mim.

10.1.13

Só sei que nada sei

perdoem esse modo Winston* de falar
Duma conversa divagante com um melhor amigo:

«adoro gente que trateia falsos conhecedores
mas até onde estes tormentadores são conhecedores?
eu sou conhecedora ou pseudo?
sei que conheço no presente apenas
nem mais nem menos
mas será mesmo que sei?
"não sei"»

«eu rezo pra afastar a morte e os demônios, e me sinto uma companheira de Deus que sente vergonha de sua criação
eu entendo ele, é como se ele estivesse let it be de tanto facepalm
eu entendo Jesus, e sei q ele se sente ofendido a cada dizimo e a cada barba feita para o labor»
***
Como falar de conhecimento e fé, se não sabemos se temos? Como compreender adoradores de Jesus e dos profetas (barbudos, cabeludos, pés-de-chinelo, anti-moeda-no-templo) que contratam caras-lisas de curtas madeixas, de sapato social, que colaboram com a moeda no templo atual, feito às vezes de ouro (mesmo em se tratando de uma crítica, adoro a arquitetura das grandes e demoradas e idosas catedrais, e sou mais à favor delas, feitas com o suor de artistas entre 30 e 300 anos de sacrifício), tratando bicho como "coisa" sendo que bichos são bem tratados n'O Livro e por São Francisco de Assis, por exemplo. Bicho só é "gente" quando rola um tilintar de moedas, como em O Auto da Compadecida e tantas outras obras. Mas quem não se compadece por Baleia, de Vidas Secas? Compadecer-se de outra vida de graça não é honra nos dias atuais, mas vergonha na lista de moral e bons costumes. Me ensinaram na academia que "nos idos da idade média... bicho era tido como nada, apenas senão objeto de consumo e extermínio". Somos então seres medivais, ainda. Um medievo de muros latentes e reis "do povo", de educação "não assistida" (será? às vezes me pergunto se esse "incentivo" à entrada nos cursos superiores não acarretarão num programa especial de lavagem cerebral assistida pelo(s) governo(s) para assim continuar mantendo a massa na rédea curta, mas dessa vez com um sorriso estampado na cara), de censura (ainda, e sempre), e contínuas distopias.
Não compreendo hipocrisias e respostas malcriadas por apenas não se saber o que responder. É tão simples compreender, viver, aceitar. Mas pra que o simples, se existe o complicado, não é mesmo? É mais divertido o barraco na tevê do que um bom livro que possa conter e contar a verdade do universo. É mais divertido espezinhar, mesmo que isso contradiga em quem você acredita. Barba e cabelo em profeta sim, em dito-cidadão-respeitável que merece ser amado como a ti mesmo não.
"Faça o que digo, não faça o que eu faço". Ou melhor: faça o que eu faço, faça o que eu digo, e faça mais, se não quer que eu pise em você.
Discrepância ação x pseudo-pensamento. Pensarem por você é mais fácil que pensar sozinho. Seguir as regras mantém o caos afastado. Mas e se a regra é o caos? Qual o problema de se considerar o se? Como não se ofender como uma interrogação? Não se pensa porque dois homens (fumando) *pensando* juntos pode ser muito arriscado? Qual o problema de arriscar-se, de ser coeso e simples? E sincero? E se ser o que se é?
E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social...


E antes de qualquer comentário, não, este texto não é sobre religião. É sobre a cotidiana e vulgar hipocrisia de todo santo dia. (Pleonasmo proposital)
*Winston é personagem principal do livro 1984, de George Orwell que, por tanto tempo calado, vomita palavras sem parar e sem organizar assuntos. Não considere como spoiler.

6.1.13

Shine (on) You (crazy) Diamond

S.Y.D., Roger Keith Barrett.
Sempre tive fascínio por este ser de olhos negros e distantes, mas de semblante irônico, como se soubesse toda a verdade do universo e se risse de nossa burrice humana e perpétua.
Um doce de menino (seria cruel enfatizar a palavra doce? Seria com todo o respeito, claro) que recitava canções de medievo e contos de fadas, gnomos, e pequenos seres do quais menos acreditamos com o passar do tempo. Canções com cor de jardim após uma chuva moderada, onde faz pingar o orvalho (início de shine on you pt I to V?) nas folhas fantasticamente verdes contrastadas com rosas, magentas, laranjas, azuis de flores diversas e sorridentes {acabei de pensar ver um gnomo passando por detrás do sofá, mas era apenas Bella, minha versão de Lucifer Sam}, infantis como as canções com seus edredons e unicórnios camuflados nessa grande selva que é o jardim do Barrett, talvez o jardim que ele tenha criado e cuidado com tanto zelo e dedicação em seus últimos anos.
Era um rapaz muito dado à natureza. E também à natureza da mente, livre pelos ácidos que, para o senso comum foram os que fritaram sua mente mas penso que o significado de loucura não é bem isto o que todos pensam, mas sim a liberdade e a amoralidade (onde não existe moral e/ou hipocrisia). Enfim, a loucura deve ser bem explicada por Foucault, mas infelizmente só conheço seu semblante (que se assemelha ao velho Keith, já atingido por uns bons aniversários).
Deve ter se enclausurado não por simples loucura, mas por protesto. Protesto esse que defendo, amando Pink Floyd pós-Syd ou não. Foi contra a venda de sua arte talvez, ou sua incompreensão. Tentou se mostrar para o mundo, mas talvez este fosse tão mesquinho e limitado para seus olhos que decidiu ficar consigo e seus cogumelos guarda-chuvas-de-insetos. Viveu em seu jardim-mundo tentando ver bondade e beleza na vida, quem sabe. Não sei, não o conheci. Só sei que faleceu um dia após meu aniversário de 14 anos.
Tento compreender Syd em sua singularidade e em seu sorriso falastrão, que sei bem que era de escárnio da pobreza de nossas almas molestadas.
Que esteja Syd, brilhando louco pelo universo. Shine on you é enfático. Não é brilhe, seu diamante louco, mas brilhe EM VOCÊ, seu diamante louco. Em toda a sua grandeza e infinitude. Em seus olhos-sem-fim, negros como buracos que absorvem galáxias. E ele assim absorveu mundos. Mundos de quem tenta buscar compreensão e encontra mais que isso, conforto em seus modos, em seus gatos siameses com nomes de "luz", que não sabemos explicar.
BRILHE, BRILHE EM VOCÊ, EM NÓS, NO UNIVERSO, NO MULTIVERSO, APENAS BRILHE!