6.6.13

Disco: The Empyrean

e o que dá pra pensar ouvindo ele
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Se tem uma coisa que de certa forma me dá saudade do estágio (o primeiro, aos 16 anos), é o tempo ocioso das férias/ dias de poucas aulas. A sala branca e vazia dos computadores, com as janelas para o jardim e o sol entrando por onde podia às nove da manhã (meu horário preferido)... Eu pensei tanta coisa naquele lugar, senti tanta coisa, que talvez houvesse algo de sobrenatural ou ultradimensional. Foram coisas que eu, agora, com quase 21 (falta exatamente um mês), não sinto mais. Não porque evoluí, mas pelo contrário, porque regredi sensorialmente.

Aquele negócio do Vico de corsi e ricorsi explica muita coisa, portanto, acho válido. Por mais que evoluamos de certa maneira - seja ela intelectual, econômica, política, religiosa -, num outro ponto qualquer estamos a regredir. Equilíbrio, talvez.
Eu era uma adolescente apaixonadinha por coisas impensáveis, queria provar teorias incríveis (do sentido de não se crer mesmo). Por mais que, ainda hoje, eu tenha esses anseios teóricos/conspiratórios, a situação é bem outra.

Não tem mais aquele negócio de "vou fazer aquilo e ponto", agora qualquer genérico serve, contanto que se chegue no propósito final - e ainda sinto que tenho chances. Houve a desilusão com o "mundo real", com os "adultos". Eu realmente acreditava que amadurecimento e Ensino Superior significavam uma coisa extraordinária (ledo engano, ninguém quer estudar, de fato, e riem de quem quer), de um monte de historiadores cultos com suas bibliotecas escuras, seus chás de alguma erva mística e essas coisas que a gente vê no Indiana Jones ou lê na Agatha Christie. Mas não, a vida não é esse sonho literário ou hollywoodiano. É mais medíocre, sabe? Bom, a vida que me cabe no momento. Deve existir essa biblioteca infinita, toda de pinho, o velho e sábio pensador com seu cachecol e suas pernas cruzadas, cachimbo na mão. Bem longe de mim, mas, quem sabe eu não me torne parte disso um dia, nem que seja só pra mim?

O negócio é: eu xingo muito no twitter, pois sou criança, e não conheço a verdade (aliás, não sou poeta, mas nesse meio tempo aprendi a amar). Xingo porque não compreendo que não haja amadurecimento suficiente para os seres humanos. E não vou culpar a TV, seus programas, o trabalho, o capitalismo, a elite ou o governo. Estes são problemas a se resolver fora do âmbito sensorial, tentem me compreender. A essência é mais profunda. O negócio está lá dentro das pessoas. De mim também. A gente perde o foco, a gente para de sentir o mundo, de ver o céu. Anteontem vi as estrelas e me dei conta de que nunca as percebi completamente. E a vida não é possível se você não vê o céu. As estrelas são uma coisa magnífica, sabe? Elas me fazem lembrar da sensação boa que era ler os livros didáticos de ciências (ou geografia), saber de Júpiter, de Saturno, do Sol, da Lua (ah, minha querida lua, a musa de tantos apaixonados). Aquela coisa de querer ser astrônoma (sim, eu quis) e também astronauta, pra passear pelos planetas e ver o céu de lá, o céu com tantas luas, tantos astros maiores e em posições diferentes.

Assim parece que estou a vitimar o ser humano. Pelo contrário. Eu o culpo. Culpo por tantos milênios de cegueira. Alguém, ao se sentir companheiro(a) de um autor ou pensador de séculos atrás, já parou pra pensar que, não interessa o tempo que passe, a aflição é a mesma? O mesmo pedido, a mesma súplica? O ser humano se repete. Platão, Marx, Goethe, Oscar Wilde, George Orwell, Schopenhauer, Bukowski, Nietzsche. Todos eles (e centenas de outros) suplicavam por praticamente a mesma coisa. Conhecimento, compreensão, razão, sabedoria, são os anseios mais antigos e até agora inalcançáveis. Não porque uma andorinha só não faz verão (ou um homem só não faz a razão), mas porque foda-se, parece que ninguém quer. O lance não é amar e ser feliz por descobrir as maravilhas da vida, o lance é estar certo diante de um embate bobo entre vermelho e azul, ismos e ismos. É só ler comentário de site de notícia (se você tiver problemas cardíacos, não leia).

Eu, desde que me lembro, sempre corri atrás desse tipo de coisa, e cada dia que passa isso se torna uma bola de neve, um vício. Com cinco anos eu queria saber por que eu não era indígena, por que o mundo era visto pelos meus olhos, por que meus pensamentos têm minha voz, como seria se eu não existisse: como não pensar, mesmo não existindo? Sempre que tento me imaginar não existente, ainda falho com o estar pensando mesmo sem estar presente. Olho pras pessoas nos ônibus, nas ruas, e me pergunto quantas delas já pararam pra pensar nisso. Quantas delas, formadas ou não, têm alguma verdade plausível, uma ideia para melhorar o mundo, e quantas ideias não poderiam ser construídas mas continuam sendo pisadas pela cegueira do ser humano dentro da caverna.

Pensar que o que eu sentia eu não sinto há muito tempo às vezes dói. Dá vergonha. Porque são coisas (importantíssimas) que, desculpem o clichê, mas nem Freud explica. Mas eu meio que embuti tudo isso (estilo arquivo .rar) numa sala só - a de informática, lá do início do texto -, numa natureza só - os céus, as árvores, as aves, num disco só. E o disco é o a seguir (ufa! cheguei ao propósito):



Disco: The Empyrean
Artista: John Frusciante
Ano: 2009
Ouça: aqui



A canção Song to the Siren é cover do pai do Jeff Buckley, o Tim Buckley.
Sim, ele é o ex-guitarrista do Red Hot Chili Peppers. E a obra dele é incrível. Comecei a ouvir o experimental, o progressivo, a partir daí. Meu disco preferido, por motivos óbvios. Inclusive sou centralheaven por conta de duas de suas músicas. E minha id sempre será esta, porque já virou um pedaço de mim. Até combina com minhas iniciais H.C. Por ser o contrário (C.H.), quem sabe não é um avesso de mim? Meu paralelo? Mas minha favorita do disco não é nenhuma delas: é a unreachable. O nome já diz: unreachable. Do you think when your head's full? E o que é tão unreachable e tão buscado? Pelo menos por mim? Respostas. Novas perguntas. Conhecimento.

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