30.11.12

Quase nada sobre coisas demais

Houve, nessa semana, a V Semana de Filosofia, já havia visto em avisos nos quadros da faculdade e pensei "poxa, deve ser no segundo módulo, então vai ter aula" ou "hmm, não tem aula, então estudo pra prova de amanhã". Não, a palestra também era pra mim, e isso foi realmente maravilhoso.

O DISCURSO CIENTÍFICO PODE SER CONSIDERADO IDEOLOGICAMENTE NEUTRO?
*Ciência e política: um debate a respeito da relação entre ideologia  e discurso científico
*A linguagem como produtora de sentido e a exigência de probidade intelectual - uma reflexão sobre o discurso científico a partir de Friedrich Nietzsche
Foto: professores Jean (meu professor fã de Pink Floyd) e Manoel Carlos (sim! o cabelo dele é azul!)
Foi muito bom na segunda-feira, gostaria de ter ido na quarta, mas confesso que estava cansada e receosa já que da minha sala só eu me interessei em ir das outras vezes é sempre assim (e não sabia se era ainda a dita sala porque as portas estavam fechadas e eu sou meio na nóia com errar de sala), e hoje foi excelente.
Mas eu não vim falar especialmente da palestra e tudo mais, discutir o que já foi discutido ou narrar os fatos etc e tal.
É mais pra acrescentar na linha do tempo pessoal as modificações e aperfeiçoamento de pensamentos, ideias, (pré)conceitos que andam acontecendo. É uma progressão e ao mesmo tempo uma regressão, já que, de outras maneiras, já vivi esse tempo, e é como se vivesse uma vez por ano, no semestre que chamo de "frio" (de junho pra cá). Tem algo além do que se pode chamar de racional ou emotivo, mas está intimamente ligado a isso, creio eu. É um modo de ver as coisas meio progressivo, assim como as músicas mesmo, principalmente as intermináveis e instrumentais. A falta de letras musicais estende os significados e as possibilidades, engendra caminhos complexos e diversos, alternativos ou não.
Minha mente também se dá bem com o silêncio, já que na minha perspectiva ele é infinito: sem vocabulário, sem signos representativos e seus derivados, mas ainda assim um elemento comunicativo constante - a frase "O silêncio diz tudo" é uma verdade, mas uma verdade dita nas piores ocasiões, que não interpretada pura e literalmente.
E silêncio e música, com sorte, eu consigo na volta das aulas, observando o pedaço de mundo pelo qual eu passo e variando entre amor e ódio para com o humano e suas humanidades (desse meu silêncio carregado de observação, ontem fui relacionada a Bukowski por um colega no sentido de: "Não, eu não odeio as pessoas. Só prefiro quando elas não estão por perto."¹).
Nessas divagações e coletâneas de livros "Pague o quanto acha que vale" (que valem menos que os 50 tons e raramente são vistos nas mãos de um indivíduo, quem quer que seja), manuais disso e daquilo, palestras pingadas e comentários alheios, além da companheira - não sei se tão querida assim - internet, com suas poucas coisas boas que a gente pena pra achar, analisei a mim mesma e continuo nesse processo, cada dia mais fiel e esperançosa com os rumos que ando tomando.
Sofri nesse ano eletivo chato, não que eu ache política algo chato, mas vicia e eu estava muito, mas muito arrogante nessa época, defensora de não-sei-o-quês totalmente sem sentido atualmente (como um mês muda as pessoas), além de estresse do ex-trabalho, decepções acadêmicas, e blá-blá-bla minhas reclamações diárias.
Perceber o mundo de tantos pontos de vista talvez desconexos entre si, caladinha no meu canto, ousaria dizer numa antropologia pessoal, foi a melhor coisa que me aconteceu desde o segundo semestre do ano passado. Naquele momento eu estava igual agora, só que não. Hã? Minha sensibilidade que eu caracterizaria com cores frias (verde e azul, precisamente), mas que nada tem a ver com frieza, era a mesma que a de agora. É a parte boa de mim. A parte lúcida. E por que verde e azul? Primeiramente, tenho uma maneira sinestésica de associar coisas. Cores a formas, músicas, sensações, pensamentos, situações. Acho que de junho a dezembro temos meses frios pelo simples fato de ser "fim" de ano, então estamos mais relaxados, conformados, passando por um inverno e cores vibrantes e límpidas do céu e das plantas por conta também da primavera. Essa forma que eu tenho de ver as coisas no segundo semestre deve ter a ver com a forma que as estações do ano afetam o planeta, talvez. Também com o relaxamento meio Let it Be que toma as pessoas, quem sabe por cansarem de tentar esse ano e deixarem para o próximo, e para o próximo... Porque início do ano (a parte quente, verão, outono abafado, vermelho, laranja, marrom) é só alegria, promessa, DIY, projeto, correria, exaltação, raiva. Curiosamente no início do ano passado e no desse, não fiz nada de produtivo e literalmente dormi a maior parte do tempo, não ousei questionar, buscar, observar, e apenas me mantive como ovelha. Não sei se faz sentido mas é assim que o mundo é pra minha cabeça, e devo ter pensado isso hoje entre o "Só os idiotas têm certeza" (sábias palavras do professor Girafales, filosóficas, diria, já que se essa afirmação seria uma certeza, logo, ao mesmo tempo seria idiotice *?*) e C=2π.r nas aulas da 6ª série (colei a formulinha do namorado hoho).
Se eu me perdi agora (o que de fato aconteceu), capaz que todos estejamos perdidos, mas a essência desses bocados e reminiscências é: calmaria de pensamentos, muita observação, leitura pingada, perspectivas, que pretendo levar ao lado quente do ano também. Não que isso de fato interesse, se bem que vou aprofundar cada tema separadamente e colocar o restante em prática...
Ando mais socrática, questionando mais que tentando responder, preferindo e me satisfazendo em interrogar em lugar de dar um basta, um ponto final. O definitivo me chateia, o finito me amedronta, já o infinito não, me traz paz, calma, segurança.
Quase no fim da palestra foi dito algo mais ou menos assim: "Quando tudo se tornar impossível, ainda assim haverá uma possibilidade, a possibilidade do impossível".
Não sei a frase certa ou de quem é, porque vou escrevendo ao mesmo tempo que ouço e a mão não acompanha (quem souber me diga), mas o princípio é esse, e é aqui que paro por ora.

1. Disponível em [http://pensador.uol.com.br/frase/NTk5NTk4/] carece de fonte específica e/ou confiável.
* Professores palestrantes: Emerson Ferreira da Rocha (Mestre em Filosofia - USTJ); Márcia Rezende de Oliveira (Mestre e Doutoranda em Filosofia - USP); Moderadores - Manoel Carlos da Silva e Jean Rodrigues Siqueira

16.11.12

Quem foi que disse?

ENSAIO I
O que é o ser humano? O que rege suas ações? Somos de fato seres de um grande rebanho a obedecer um "sistema" de outro que seria um ser mais evoluído e mais inteligente (?) Somos todos iguais, mas uns mais iguais que os outros?
O que move o mundo? Qual é o clamor planetário e, por que não, universal? O bem? O mal? Por que aquilo não pode? Por que não? Quem ou o quê pode me dar garantias de que aquilo me fará mal? Ou bem?
1984, Animals e A Revolução dos Bichos são, de fato, apenas literatura e música prevendo um possível destino da vida na Terra, ou são realidades ignoradas desde que o sedentarismo se instalou entre os Homos? A Utopia é, de fato, uma irrealidade, uma impossibilidade, uma inviabilidade? Por quê? Por que sim? E por que sim?
Como dar uma opinião sem ser grosseiro e totalmente estúpido? Como avaliar a opinião alheia? Como avaliar pensamentos e ideias? Qual o sentido de se expôr para uma classe e explicar uma matéria já dominada pelo professor e receber nota não pelo que se quis passar de conteúdo, mas por quanto se foi gaguejado? Como saber se o entendimento do mestre é correto, e não deturpado, apenas tendo em mãos um papel com as letras D I P L O M A?
Quem está certo? Quem está errado? Existe certo e errado? Existe inferno? Meu inferno é pensar na sociedade doentia que descobri ao escolher o pensamento como caminho para a felicidade. É o meu acreditar que 1984 é, não só atemporal, mas um fato consumado de todas as sociedades preguiçosas e escravistas/escravocratas/de servidão que todos nós sabemos pelo menos um pouco.
Mas em quem acreditar? E se acreditamos, até a morte, sem nunca nos darmos conta, na pessoa, teoria ou posição político-filosófica errada? E se estivemos certos, por toda a vida, mas calados perante o mundo e incapacitados de revolucionarmos? O que há de errado com a vida em comunidade? Com a simplicidade? Com as boas ações sem moedas de troca a não ser um belo e caloroso sorriso? Por que é preferível entrar na fila da escada rolante (tendo a de pedra vazia ao lado) a ouvir um som progressivo de míseros mais de vinte minutos? Será que a reflexão trazida com a boa música está atrelada à rejeição da massa? Massa homogênea como a massa podre de torta que fica ali, parada, fermentando, esperando o serviço do externo para ser transformada e submetida, mas inútil sem um recheio saboroso e colorido para lhe dar vida e que não é do gosto de todos. Como ver sentido nessas exemplificações pessoais e meio perturbadas, recortadas, receosas? Como entender os sentidos dos outros? O que faz sentido pra mim, realmente pode fazer sentido pra você? Como saber se algum dia entendemos o propósito do outro?
Quem disse que o diálogo é apenas feito por voz? Por que a voz é tão importante, o discurso - que creio ser somente sofismo, publicidade e pena de pavão - e as palavras bonitas tão possivelmente preenchidas com o nada? José DiasAmante dos superlativos e da bajulação (sic) - era exímio discursista mas quase nada, no fim das contas, era o que dizia. Creio que o valor que se dá ao discurso, seminário, palestra, entre outros, seja um apoio à não-leitura, um descaso com os tímidos, gagos e momentaneamente gagos e propensos à vermelhidão  (como eu), e uma maneira preguiçosa de se dar aula. Há sim o valor, que se limita a certas pessoas. Não é algo global que deva ser preferível, já que existem pessoas que se sentem muito mais confortáveis ao escrever, ao cantar, ao desenhar, ao fotografar. É muito fácil dizer "diga o que pensa", e só ouvir palavras soltas, perdendo às vezes o foco, distraindo-se, interpretando errado as feições e os tons de voz.
A vida em comunidade está cada vez mais utópica pelo fato de não sermos nada dóceis, compreensivos, respeitadores de espaço, opinião, ideias, criações, modos de vida, gostos, desgostos, medos, limitações. EU rege a sociedade. EU e absolutamente EU é o melhor, o principal, o que deve ser beneficiado. Não acontecendo com EU, que importa?
BONS costumes, será que eles são bons mesmo? Quem disse? Por quê? Até quando estamos controlando nossas próprias mentes, conscientes ou inconscientes, inconsequentes? Será que estamos?
Inspirações em A condição humana, no incômodo limite entre o bem e o mal (ensaio de Anthony Burgess)
Controle da população através do poder midiático. Há muito queria fazer um texto interrogativo, se é que se pode ser chamado assim, pela afeição a Sócrates e esse seu jeito gostoso, simples e sincero de pensar, e a curiosidade que nunca me abandonou, mas só depois dessa muita leitura e trilha sonora pertinente (obviamente de Pink Floyd: Wish You Were Here, The Division Bell, Animals e The Dark Side of the Moon - na ordem) tive coragem de me arriscar em um texto que não me ferisse e pelo contrário, me desse prazer em pôr em prática.

6.11.12

Desafio 21

Depois de muito odiar meus textos e as coisas como são todas as manhãs a minha volta - o que não significa que tenha findado, infelizmente -, decidi fazer algo de útil e voltar a ver a vida como antes, ignorando a putridez de algumas situações que são imutáveis nesse mundo bandido.
Voltei a desenhar, a dar mais valor à filosofia (clássica) que a sociologia - isto faz bem pra mim, já que é mais saudável tentar entender que tentar mudar na marra -, e ao tweetar e fazer uma limpeza na minha lista de following, descobri o #Desafio21.
Deixei a página aberta desde ontem e hoje pesquisei mais um pouco, descobrindo que na verdade é tudo bem organizado, com cadastro e direito a prêmio relacionado a fotografia.
Não sou fotógrafa e nem pretendo, mas adoro essas fotografias bem feitas cada vez mais fáceis de encontrar já que virou paixão global entre blogueiros.
Quero participar da ideia, mas sem tempo e/ou obrigação, ou interesse nos (bons) prêmios. Então utilizarei apenas o desafio em si, anonimamente, sem tempo pra acabar. Mas ainda assim curti muito a ideia, quem sabe eu me cadastre num possível Desafio 21 nº III. Pra quem quer participar de verdade, clique nas imagens para entender o desafio passado e (se der tempo) concorrer no atual.

Desafio nº I


Desafio nº II

3.11.12

Coragem, eu sei que voce pode mais

Eis que encontro no facebook uma notícia:

MEC elimina candidatos que fotografaram cartões de respostas das provas do Enem e postaram em redes sociais: http://bit.ly/RE3FwN (Foto: Reprodução) - Página do Terra

Meu comentário, diante de "Ê Brasil!" "Esse ENEM não muda nunca!" e semelhantes:

Se barrar quem leva celular na entrada, ninguém faz a prova. Só se culpa o MEC e o governo por erros humanos que não cabem a apenas um. É proibido o uso de celular na prova, ele fica desligado e com bateria fora, no outro canto da sala. Fora do prédio pessoas usam seu celulares como bem entendem, e nesses dias pra coisas mais importantes, seja pra relógio, comunicação GPS etc. A punição está mais que justa, o candidato que não obedeceu regras, não é falha vergonhosa do governo etc. A culpa do mundo ser assim não são só os governos, temos nós, enquanto povo, que nos culpar também, por omissão, desrespeito, egoísmo, procrastinação. Como diria Raulzito, "é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro".

Penso que "político é tudo igual", "aquele partido é somente de corruptos, não vou votar nele por causa daquele escândalo com o camarada x de seu partido" é algo muito vago, coisa de quem tem preguiça ou desesperança em ser cidadão, ou pior, ignorância quanto ao peso que tem seu voto, manifestação, protesto, revolução (lembrando que estes últimos três itens não significam violência, sair às ruas, bombas de "efeito moral", etc.).
Não acredito em partidos políticos. Cada pessoa tem seu querer, sua organização e modo de produção. Não acredito em um mensalão, mas em vários. Concordo com meu professor que diz que mensalão é algo que existe e ponto (não que isso não possa ser mudado, que seja correto ou que eu esteja meio que concordando, não). Se entendi bem o que ele quis dizer, posso afirmar (não com certeza, pois só os idiotas têm certeza) que, no filme Morte ao Rei - Oliver Cromwell, Lorde Fairfax, Rei Charles Stuart I e esses camaradas de cabelo e bigode bacanas - existe certo tipo de mensalão quando o Parlamento é comprado para obtenção de votos em favor de King Carlinhos (que ator feio, aliás). Pelo menos acredito que seja mensalão.
Vi também no jornal, uma notícia corriqueira dita quase sussurrada muito sutil, de que Haddad e seus companheiros aliariam-se ao PSD/DEM do Kassab para obtenção de votos (que deveriam somar 28 e em alguns casos 33) comuns para aceitação de projetos, etc. Creio que isto também seja mensalão, um mensalão que todo mundo faz a torto e a direito. Não existe só essa alegoria de PT, de "eu não sei de nada", etc. E não, não sou petista, justamente porque não acredito em partidos, mas em pessoas. Partidos são empresas, são instituições. Eu creio em ideais.
Só sabemos criticar o governo, os governantes, o sistema (faço muito isso, admito), mas não criticamos a nós mesmos e nossas ações. Fazemos isto não só com política mas com o modo de vida do vizinho, a galinhagem da colega de trabalho, a ditadura da chefia (que aplicamos a nossos filhos). Temos preguiça de autoavaliar-nos. De corrigir nossos erros. Temos medo de admitir que falhamos. Que fizemos cagada nessa uma vida que temos. Preferimos a rotina da técnica dominada ao invés de pularmos no infinito do novo. O novo cansa, impõe obstáculos, problemas a serem resolvidos, a possibilidade do erro. Mas o novo nos move. Nos impulsiona e inspira.
Prefiro a incógnita da vida variável, de infinitas possibilidades, de novas ideias, de novas missões, um nomadismo (como na Turma do Chico Bento), do que a mesmice do uniforme, do posto, do cargo únicos e completamente explorados, do sedentarismo pesado que um dia nos transmutará para um mundo que até agora somente uma barata, Eva e Wall-E presenciaram.
População humana no filme Wall-E: estamos impulsionados a isso.