17.9.11

Money, it's a crime

Texto inspirado nesta situação: Estudante atropela e mata idosa após o Tusca
Eu disse que sou egoísta e tô nem aí pras mortes que passam de pessoa pra pessoa nesta rede de fofocas constituída de papa-defuntos que é a sociedade humana.
Mas há uma exceção para toda regra. E esta senhorinha de 83 anos me fez refletir e sofrer um pouquinho mais que o natural. Não vou pedir justiça por ela, viajar até sua cidade pra participar de seu enterro, fabricar camisetas pedindo paz ou gritar na porta do tribunal caso haja julgamento do culpado. É exatamente isto que me faz ter nojo das pessoas.
Interessante é ver como as coisas se distorcem, como a verdade realmente não é algo bruto e fixo, imutável. Talvez nem mesmo exista, já que são tantos pontos de vista a se considerar. Dependendo de onde se coloca a ênfase, a coisa pode ser vista por vários ângulos e, sempre haverá um mais próximo da visão compacta, que vai ser o mais visualizado, discutido e afirmado pela população. Geralmente este ponto não é o mais correto.
Então:
A senhorinha é assassinada por um cara que dirige provavelmente bêbado e em alta velocidade;
este indivíduo foge, mas seus advogados depois afirmam que ele fora buscar ajuda;
é preso o meliante, mas após $19 mil e uns quebrados está livre leve e solto;
responderá por homicídio CULPOSO;
EM LIBERDADE.
Lembro-me das zilhões de vezes em que a pessoa realmente sem querer assassina alguém e é julgada como DOLOSO. De pessoas que passam a vida sem saber como é a vida lá fora porque roubaram um pouco de comida para sobreviver. Daí fulano que estuda e tem umas verdinhas, que desobedece a lei e compra advogados para distorcerem os fatos fica por aí, sapateando na cara dos pobres coitados que formam a nação.
A senhorinha idosa vira popstar das páginas policiais (e dos blogs dos revoltadinhos, rá), tem seu corpo coberto de sangue fotografado para estampar notícias de vários meios de comunicação que repetirão sua breve história pública até voltar ao esquecimento e poder descansar em paz com Jesus.
Não sei se tenho revolta por quem tem o poder pelo outro (todos estes funcionários padrão que mexem com verdades e mentiras, e têm o dom de manipular), por quem acredita piamente no que diz a mídia e ainda se revolta com a pessoa errada, ou ainda por muitos destes que tomam para si dores alheias, dores que provavelmente nem existem.
A sociedade é engraçada, mesmo não tendo graça nenhuma. E vice-versa. Se complica o simples e se simplifica o complicado. Se crê na mentira, e se descrê na verdade. Se valoriza o inútil, se inutiliza o que é de valor.

"Why does anyone do anything?"
"I don't know, I was really drunk at the time!"

2 comentários:

  1. Então, nào gosta da forma como a mídia massacra em nossas mentes esse tipo de caso, que aliás acontece todos os dias e ninguém faz nada de concreto, além de comprar seu jornal, dizer que está revoltado, comparecer na "passeata da semana", fingir que fez sua parte de responsabilidade social e continuar com os mesmos hábitos absurdos. Hipocrisia, pura e sempre, parece que os seres humanos já nascem dotados disso aí.

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  2. "Interessante é ver como as coisas se distorcem, como a verdade realmente não é algo bruto e fixo, imutável. Talvez nem mesmo exista, já que são tantos pontos de vista a se considerar."

    E acho que só tende a piorar, infelizmente.
    Concordo com o comentário da femmefroide. Os seres humanos ainda tem medo de lutar contra certos fatos e se dizem evoluídos.

    Adoro o seu blog, Helen!
    E obrigada pelo comentário, fiquei feliz!

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