31.12.11

Too Old To Rock 'n' Roll: Too Young To Die

No dia do meu aniversário, no blog antigo, eu escrevi algo com este mesmo título (link). Algo totalmente diferente, mas realmente acreditava naquilo. Ainda acredito aliás. Mas nisso aqui também.
Porque eu não sabia, eu não sabia que mesmo que a vontade fosse totalmente contrária, quando se é vendido, o homem está apenas sendo mercadoria, e não um traidor, fraco e desistente de seus ideais. Eu pensava com revolta. Com raiva de quem não aguenta, de quem não tenta, de quem não prefere se acabar sendo quem é, em lugar de jogar na megasena e ganhar tudo o que todo o resto do mundo sempre quis.
É realmente doloroso ver a decadência de um dos únicos sobreviventes dos bons e velhos tempos. É doloroso ainda acreditar, mesmo que tudo prove o contrário, que ele ainda tem chances de voltar com os longos cabelos, barba, e viagens. Eu não desisto ainda de algo que parece, e deve ser realmente irreversível.
Eu acredito no espírito. Na alma.
Tenho pena dos que encontro na posição de anônimo, que é apenas quem é dentro da cabeça e do coração, de um quarto escuro às 3 da manhã. Mas tenho orgulho de ainda encontrarem tempo para serem quem são.
Não é só cabelo, barba, Harley Davidson, tatuagem, cigarro e roupas fora de moda que lhe fazem ser quem você é. Você é o que está dentro do coração e da mente, a parte de fora serve apenas como proteção, como casca, que se modifica assim como um casulo transforma lagarta em borboleta. Essa casca só evidencia ou esconde quem você é. Mas você ainda é.
Mesmo que faça faculdades chatas.
Mesmo que tenha um emprego de merda que é totalmente contra o que você acredita. - Isso só reforça sua crença.
Sim, está uma merda tudo isso, mas o rock and roll ainda vive. Sobreviveu por tantas décadas, modificou-se extremamente, mas ainda assim não apagou o progressivo, o blues, o heavy metal ou o punk. Eles ainda vivem. Não estão em seu auge e nem em 100% das paradas, como você não está com 100% do seu tempo livre para fazer algo experimental. Mesmo assim ainda vivem. Porque existe gente que perto ou longe se importa em reviver tudo isso. Porque sempre tem um velho roqueiro sozinho no fundo de um bar esperando ouvir seu bom e velho Jethro Tull, e não se importa de se sentir solitário, já que sozinho mesmo estaria com os amigos novos-caretas.
Sempre sobra alguém que é contra o que todos são a favor. Sempre sobra alguém pra acreditar no inacreditável.
Eu sou alguém assim. Não interessa o que faz como ou por quê. Interessa quem você é, não como se veste ou se porta. Você ainda é você.
Evite vender sua alma, já que seu corpo está sendo negociado.
Guarde-se. Utilize-se. Sobreviva.

26.12.11

Cálice


Eu gostaria de saber se os caminhos que podemos escolher são realmente infinitos.
Gostaria de saber se os poetas já vivenciaram o que compõem, ou se apenas observam e compadecem-se da dor do injustiçado. Porque dependendo das respostas, eu posso saber se ando, se espero, se vale a pena andar.
Se os poetas realmente sentem tudo isso que expõem para nós, apreciadores, o que lhes faz continuar vivendo e continuar lutando?
Acho que a resposta é a mesma para a minha crença política. Sei que nada vai mudar, que não vou guerrilhar nem mudar milhões de mentes mas, mas eu continuo acreditando, mesmo que como apenas utopia.
Acho que a resposta para a perseverança dos poetas, é a arte da qual se aproveitam.
A arte é a vida, a esperança, a fé. Se usássemos toda a nossa dor e indignação com desenhos, textos, melodias, poesia, artesanatos... Talvez, no momento da criação, houvesse uma luz... Uma luz colorida e extremamente brilhante, de um azul-lilás com leve toque de rosa-alaranjado do pôr-do-sol.
A arte é a solução. Pensar é arte. Sempre há tempo pra arte. É só não ter preguiça com a arte, nem má vontade com a arte. É só não achar que a arte requer tempo. Se o tempo é pouco, aceleremos sua construção. Se precisamos fabricá-la manualmente, procuremos material no ambiente em que nos encontramos no momento. Qualquer coisa. Se é escrito, cadernetas com palavras-chave ajudam. Bloco de notas. Gravadores para sons. Material que não deveria ir para o lixo - como papel, papelão, tampa de caneta, clips, copo de plástico - serve para infinidades de tramoias. Vamos construir a arte, e desconstruir a dor. Vamos desmanchar o ponto errado deste novelo para refazer a coisa do jeito certo, do jeito firme.
A arte sobrepõe a indústria, o comércio, a política, a economia, os esportes, os moralismos. A arte é a mãe para todo órfão perdido pelos centros tomados pela ditadura consumista e consumida.
Afasta de ti este cálice. Não cálice. Grite, grite em códigos pelo menos, mas o faça! A arte é o caderno mágico do artista, indecifrável para o carneiro que segue os porcos e cães. Viva arte. Respire arte. Pense arte. Ame a arte.
Sempre existem os dois lados. Ou mais de dois, porque vivemos num lugar rico em possibilidades. Vivemos cercados de opções, cenas, ações precedendo reações. E se há escassez, há também a invenção.
Porque vivemos.
Ainda. 

24.12.11

E o momento se foi


As pessoas dizem que quem vive de passado é museu. Mas tudo o que é vivo, vive no passado. Tudo o que acontece, fica no passado. Não fosse assim, o tempo não existiria e tudo seria o mesmo, e mais do mesmo, estático, parado. Mas o passado não existe. O passado passou, e tudo o que era sólido virou lembrança. Lembrança é abstrata, fosca, difusa. Lembrança falha, e pode ser confundida com imaginação.
As pessoas acham que vivem do futuro, pensam no futuro, se agarram nele como se fosse o único cipó firme o bastante para lhes salvar da areia movediça, mas é justamente ele, o futuro, que lhes afunda. Porque o futuro não existe, o futuro nunca chega.
Tem gente que acha que vive no presente, porque passado e futuro não existem. Mas o presente não existe, o presente se torna passado, e o próximo presente está no futuro. Está no meio de duas inexistências. Ele é rápido, mas tão rápido que nunca existiu. O presente não passa de expectativa transformada em memória. Você não consegue acompanhá-lo, é como querer ultrapassar a própria sombra.
Este tempo não existe.
O tempo é marcado pela pele, pelo tronco, pelas folhas verdes macias e resistentes, que se tornam marrons, secas e barulhentas.
O tempo é a velocidade do vento, a cor da água, o sabor da fruta, o cheiro da decomposição.
O tempo está nas coisas, o tempo não se move, ele transforma o ambiente.
Passado, presente, futuro, estes não existem, eles estão apenas no calendário. São apenas acentuações na língua da natureza que não modificam sua leitura.
Somos poeira no vento, somos a areia da ampulheta quebrada no meio do deserto.

19.12.11

'Cause I remember

Não dá pra resolver que o choro vai parar, o medo vai morrer e o sorriso vai florescer daqui há exatos dois minutos. Por mais que você queira, implore, e se force a isso, só consegue o contrário.
Mas quando você se solta, ah, meu amigo... Que delícia! Uma anedotazinha da colega do trabalho e o pote de sorvete que ela vai buscar na festa do andar de cima pra você porque sabe que você não é festivo(a) te fazem sorrir tímidamente.
Sair do trabalho ainda de dia e sentir o calor do sol te lembra os tempos de pré-adolescência quando você saía de aula vaga às 16h da tarde. Você não sorri, mas se sente bem, se assusta até, por uma época tão estranha da sua vida ainda te lembrar momentos bons.
Vai dormir lamentando as horas que ainda tem de dia pra aproveitar, mas não dá pra ficar acordado(a) depois de passar mal à noite e perder o sono com preocupações, porém se lembra da sua gata ronronando assustadoramente alto pedindo um cantinho na cama e indo dormir com você como nos bons e velhos tempos de infância felina.
Sonha, sonha com seu bem e com coisas do trabalho, mas de uma maneira divertida, e sonha que corre como criança em pega-pega depois de provocar o seu amor por dizer (sem querer, mesmo) que o seu time tem mais títulos. Sonha até com a felicidade do primo que começa a assobiar do nada.
Acorda e ainda tem Sol. EBA!
Sobe as escadas pra ver o céu de um ângulo mais expansivo e:

Ainda consegue ver o finzinho do pôr do Sol, consegue se lembrar do inverno, pra onde olhava quando falava tal assunto em agosto, setembro...
Sorri e dá as gargalhadas mais deliciosas ouvindo a música que te pergunta se você lembra daquele tempo gostoso quando estava tudo bem, nossa você já tentou fazer isso? Encontrar o pôr do sol assim, sem querer, sem marcar hora, e colocar o celular no aleatório e cair justamente naquela música? Que fala exatamente sobre o que você já estava fazendo que é lembrar de tempos extremamente bons, e daí você tem uma ideia de preparar mais porcos voadores para o seu bem, e vai saltitando pela casa achar o material e dá de cara com ele...
E vem escrever sobre isso porque é realmente surreal quando a felicidade vem, porque ela vem tão absurdamente do nada, só que mesmo assim você sente que já estava esperando ela chegar, isso é tão ... [escolha um adjetivo grandioso]!
Sou um porco em vôo. Tão leve que o vento é quem me comanda. Estou em ékstasis.

17.12.11

40 coisas randômicas

Mesmo que seja moda daquele colega que você acha muito catito mas que te enche de e-mail de "Bom fim de semana", adoro essas coisinhas, e como não quero dormir mesmo e foda-se por mim nem acordaria amanhã, vou fazer essa coisinha supimpa que ninguém se importa em saber mesmo.
  1. Amo rock progressivo, e nunca vou deixar de gostar do bom e velho (mas bem velho mesmo) rock and roll. É difícil pra mim ouvir coisa nova, recente, atual.
  2. Amo gatos e felinos em geral.
  3. Adoro material de secretaria (grampeador, carimbo, clips, pastas, arquivo, calculadora), trabalho em uma mas não é aquela delícia que achei que fosse.
  4. Morro de medo de mariposa.
  5. Ultimamente tô odiando tudo o que escrevo - e não é novidade.
  6. Quero aprender a tocar baixo, por mais que eu tenha a maior impaciência, preguiça e má vontade do mundo.
  7. Um pediatra já me sangrou o ouvido esquerdo com um palito de picolé quebrado ao meio. Eu tinha 4 anos.
  8. Não acredito que loucura seja algo ruim, pra mim é o ápice da inteligência incompreendida.
  9. Não gosto das bandas novas porque os vocalistas têm vozes terrivelmente estranhas. Ninguém como Ozzy, Zappa, Waters ou Ray Charles.
  10. Deve ser por isso que não ouço tanta mulher cantar. Nem homem com voz grossa forçada (tipo aqueles metal estranho), porque acho uma bosta mesmo, a voz tem que ser natural e enfim.
  11. Odeio a voz da Paula Fernandes, ela não canta porra nenhuma. Nem que cantasse um estilo musical compativel ao meu. Prefiro aquele passarinho azul do orkut cantando I Still Loving You (quem lembra?)
  12. Eu falo muita merda que ninguém aguenta, minha irmã é sincera o bastante pra me dizer isso, e meu pai finge que nem estou no mesmo cômodo que ele pra não se dar ao trabalho.
  13. Eu ainda creio que os objetos têm vida e no meio da madrugada fazem o maior auê.
  14. Psicodelia é tudo, né gente? Pena que tanta cor me faça ficar tonta e com vontade de vomitar.
  15. Ciranda Cirandinha, Atirei o Pau no Gato e aquele Gira-Gira que tem nos parquinhos me fazem querer vomitar também. Porque fico tonta.
  16. Eu digo que sou comunista, mas sou extremamente individualista, fico puta quando mexem em algo meu (então fico sempre, porque nada, absolutamente nada nem ninguém respeita meu espaço, em lugar nenhum meus objetos ficam onde deixo sem que alguém ponha a mão).
  17. Adoro bordar. Ponto cruz, crochê eu sei fazer. Tô tentando aprender tricô.
  18. Amo calor extremo.
  19. O melhor lugar do mundo é o deserto.
  20. Acredito em qualquer lenda milenar ou esse folclore brasileiro mesmo.
  21. Minha lembrança mais antiga é dos dois anos de idade, quando morava no sítio do meu avô na Paraíba.
  22. Adoro marrom e cinza.
  23. Odeio beterraba e abacate.
  24. Carne de porco é a melhor. Mas odeio feijoada.
  25. Porco vivo também é uma graça, queria cuidar de um, mas ainda o deixando livre.
  26. Me forço a dormir porque muitas vezes não quero acordar. O que não significa que eu queira morrer.
  27. Eu não gosto de cerveja, bebo às vezes porque esqueço disso.
  28. Rum é bom, mas só de lembrar fico enjoada.
  29. Prefiro o céu estrelado, mas céu com nuvens também diz muita coisa.
  30. Eu converso com o céu e minhas gatas, e às vezes com plantas. Converso mais com tudo isso do que com ser humano. E muitas vezes sem palavra alguma.
  31. Queria ter ainda uma Barbie morena ou negra. Nunca tive.
  32. Ainda adoro brinquedo.
  33. Durmo com o "Musicão" da "Turma da Garrafinha" da TV Globinho, ele cantava Aqualung do Jethro Tull, música que fui amar anos-luz depois.
  34. Odeio festa, odeio mesmo, odeio muita gente junta e som alto e comida estranha, conversa besta e muita hipocrisia, só sorriso falso pra lá e pra cá.
  35. Sempre me perguntei "quem sou? por que sou? por que eu e não outra? por que eu sou eu e ouço meus pensamentos e tudo é desse jeito?". Isso que me faz insistir em viver.
  36. Faço História, e amo de verdade. Não tanto o curso, preferia ser autodidata e sonhar com aulas perfeitas.
  37. Já fui muito boa em matemática. Fui.
  38. Não quero ir dormir agora e tenho certeza de que não vou querer levantar da cama amanhã.
  39. Às vezes esqueço de coisas breves, tipo como foi meu dia de ontem, ou até de hoje. Mas me lembro de coisas aleatórias e muito, muito distantes.
  40. Tenho medo de altura, mas não de olhar pra baixo, e sim pra cima, porque tenho medo de andar e não ver o limite entre chão e nada. E parece que o chão balança quando tô alto demais. É pavoroso.
Sinto que queria dizer mais, mas foi difícil conseguir chegar ao 40. Doideira.

I wanna leave but I just get stuck

Eu pensei que não ia me importar, já que ia ficar tudo bem e ninguém brigou mas, mas não tem como comparar, não tem.
Red Hot Chili Peppers sem o John é realmente muito deprimente.
Era minha banda favorita dentre todas, era sim, porque eu não sei quanto a quem só vê técnica e estilo e tshururu e blablablá desse instrumento tal que é marca tal mas não tão boa quanto, ou que os acordes são simples ou complicados ou sem sentido, foda-se a complexidade da coisa, eu nunca nem entendi as filosofias do Anthony direito mesmo...
Mas o John já disse uma vez, que você pode entender o que a música quer dizer sem entender a letra [Para uma pessoa a quem as palavras não tem clareza, consciencia significa mais do que lê-la como eu faço, e por isso eu recomendo audição ou leitura, enfim, O jeito que você quiser.].
Enfim, o caso é que, não importa o quão você desmereça tal coisa, essa banda já foi foda pra caralho. E o John é realmente um puta homem por tudo o que viveu e como viveu, e pelo que me faz pensar e sentir, e eu morro de saudade do jeitinho contido dele de ultimamente, sem deixar a meninice dos anos 80 de lado.
O John me lembra sonhos bons, faz tempo que não sonho com ele. Mas são sonhos tão fortes que parece que os tive essa madrugada ainda.
As músicas são deliciosas, o jeito, a sutileza da coisa é tão, mas tão fora daqui que eu não sei como ele pode ser humano.
Ele faz muita falta.
Eu até ouvi o novo disco dos Chili Peppers, curti duas ou três mais que as outras, não vi muita diferença assim, esteticamente, como muitos dos que desacreditam na capacidade do John também não viram. Mas como eu vejo algo muito especial, foi pior pra mim do que se não tivesse mais música nova nenhuma, nunca mais.
Senti certo asco, um vazio estranho, como se eu visse minha família desabar na minha frente. 
Engraçado que aconteceu algo semelhante mas literalmente, e eu não senti nenhuma dor ou tristeza parecida, na verdade não senti absolutamente nada.
Eu vou continuar ouvindo o que o John fizer, eu vou continuar ouvindo RHCP até o Stadium Arcadium. Não sei se vou além.


15.12.11

Canceriana sem lar

Ano passado minha professora de Português - que mais dava uma de psicóloga exotérica do que literária PEB II - pediu licença e disse à todos o quão meu grupo era fechado para o restante da sala, e como eu entrava em uma casca que às vezes me fazia parecer antipática. Eu gostei na hora sabe. Ninguém nunca me diz direito o que acha, e quando eu pergunto muda de assunto ou diz,  "ah, não sei...bem..". Mas acho que só hoje enquanto olhava as plantas no quintal pude entender.
Eu realmente sou um caranguejo sabe. É só ver gente que eu me escondo na minha casca, e percebo que hoje em dia, mesmo quando vão embora, estou tão distraída comigo mesma que fico lá dentro, no escuro, e nem vejo mais o mundo.
O tio Jaime da cantina da escola disse que eu tenho que gostar de mim primeiro, muita gente diz isso, mas o jeito que ele falou foi muito importante, sabe. Os abraços da professora Rose e da Elizete também foram muito bons, e os conselhos da menina Sara. 
Eu tô muito no escuro, me lembro de tempos atrás quando fazia questão de ficar acordada pra ver o mundo e decifrar o céu, as árvores, as flores, as pessoas.
Hoje não aguento ficar mais acordada, eu durmo tanto quanto posso, tudo bem que quando estava em aula era por dormir tarde e acordar cedo, mas agora me forço a ter sono, eu não quero levantar porque não sei pra onde ir, o que fazer.
Não desenho há um bom tempo. Não escrevo coisas que me agradam, não quero mais escrever nada porque tudo me fere e não quero que ninguém saiba de alguma coisa, porque é como entrar na casca e colocar um tapete de "Bem-Vindo" na porta.
Vi uma imagem, aliás duas, que me remetem vida e morte, e percebi que ainda amo minhas filosofias e histórias, que ainda me arde o coração ao pensar em Che, que Requiem para uma Flor ainda me dói deliciosamente, que ainda quero tocar baixo e que ainda adoro ver o céu.
Mas está difícil, enchi a entrada do meu cafofo escuro de quinquilharias e não vejo a luz do Sol direito.
Eu quero voltar, sabe. A ficar quentinha do lado de fora, a dar minha cara a tapa e fazer besteira, passar meu tempo livre lendo, ter vontade de ler, até minha Agatha Christie, tá difícil... Muito difícil...
De trabalhar estou gostando, exceto pelos problemas diários que não são nada quando comparados aos de outros, mas eu me distraio, sabe.
Só que não quero me distrair, quero me ocupar das coisas que eu realmente adorava, quero me importar com o mundo, continuar me achando diamante nas mãos de mendigos, quero ter menos raiva e ver as coisas coloridas, quero minhas pimentinhas do inverno, nossa árvore de sábado, alguns fins de semana de guitar hero na casa da Débora, mas como eu quero aquela árvore... As pimentinhas me puxavam o cabelo, o céu com o Sol e a Lua ensaiando um eclipse que não saía...
Pelo amor de Deus eu não quero mais dormir.

11.12.11

Strawberry Fields Forever

Sei que as pessoas quando vão embora nos deixam meio ou completamente tristes, e talvez nunca cheguemos ao estágio de nostalgia doce e tudo mais mas, mas e aquelas pessoas que só vemos uma vez na vida?
Pessoas que nos fazem ficar apaixonados, felizes, esperançosos, me pergunto às vezes se são representantes ou o próprio Deus nos dizendo que ele existe sim.
O homem de vermelho, o homem de vermelho é o destino.
A senhorinha do ônibus que aliás vi duas vezes, ela é a esperança.
A vovó que curte passarinhos, aquela é uma das mais importantes, ela é prova de que vontades e sonhos se realizam.
A aplicadora da prova na escola é a que mostrou-me como sou importante, e como meu sorriso é importante pra qualquer desconhecido que tenha o mínimo de sensibilidade.
O velho puto, ele é a prudência, o puxão de orelha.
O Thundercat com quem conversei algumas vezes é prova de que há persistência em ser tudo isso, que dá pra ser você e ser um não-você, e que dá pra misturar gosto com desgosto, e que não estamos totalmente sozinhos.
A Gabriele, a Sara, essas são rejeitadas como nós, mas não dá pra entender como pessoas tão deliciosas de se conviver sejam tão empurradas pra trás.
Você é todo mundo junto, e muito, muito mais. E esse povo todo são cada migalha do nosso caminho torto que vai dar pra uma casa doce e psicodélica com Jennifer Gentle, gatos siameses, policiais que vão voar alto ao som de Hocus Pocus com a gente. Não vamos deixar nosso pão acabar, as aves os comem da gente pra não sabermos voltar pr'aquela fome de viver, pr'aquele desespero e total falta de cor e sabor.
Vamos deixar essas migalhas pelo caminho, vamos agradecer por elas nos levarem até nossa casa nos Campos de Morangos.

Living is easy with eyes closed, misunderstanding all you see. It's getting hard to be someone, but it all works out; It doesn't matter much to me.
Let me take you down, 'cause I'm going to Strawberry Fields. Nothing is real, And nothing to get hung about. Strawberry Fields forever.


7.12.11

Não tá dando certo, né? Então deixa quieto por enquanto, tá? Antes que eu odeie ainda mais o que penso e falo.

6.12.11

Vem cá mulher, deixa de manha

Não estou falando nem vou falar sobre cobras e aranhas. Mas é esse o título mesmo, manha. Vamos deixar de manha e vamos agir.
E eu vou agir dessa vez porque tô com raiva e se tem uma coisa que eu sei é que eu só faço alguma coisa quando tô com raiva. E é uma raiva tão grande que me deixou lúcida de tal forma que eu tô tendo a certeza de que vou virar a noite fazendo essa maldita resenha do Paulo Prado que adiei por causa de outras merdas que foram pedidas, pelo jogo do corinthians (eu odiei o corinthians a minha vida inteira, não odeio mais, amei esse jogo, só que continuo não sendo corinthiana ok? nem serei, tá certo?), pelos históricos de transferência e pela formatação do computador do meu pai. Mas na verdade, verdadeira, de verdadinha, eu não fiz esse troço porque não tive vergonha na cara e fui manhosa do início ao fim, ficando emburrada quando me jogavam na cara coisas que eu já sabia que estava fazendo de errado. Ou melhor, não tava fazendo porra nenhuma porque sou medrosa porque fui criada forever alone cheia dos receios e não-me-toques porque papai foi criado por um vaqueiro muito do brabo Paraíba masculina vovô macho sim senhor que fundiu com os miolos de quem me gerou.
Então agora vou me desvincular desse medo imposto, vou me agarrar nessa raiva que eu sei que tô errada em ter mas é a única coisa que vai me levar pra frente ou me fazer afundar de vez. Mas foda-se, dessa vez posso dizer que fiz algo.
Ao invés de dormir, espero que eu me lembre de, no caminho, parar no posto de saúde muito bem administrado e cheio de benefícios, pra pedir exame pra saber porque diabos eu sangro tanto, e espero que não seja uma anemia ou algo pior porque se eu desistir de tudo depois dessa não quero ouvir reclamação.
Vou trabalhar, vou ficar 36 horas sem dormir, vou escrever pro meu pai e deixar essa carta como segundo plano porque vou tentar falar de alguma maneira, vou ligar essa raiva lúcida e macia e vou olhar bem na cara dele e dizer "pai, eu cresci". Se ele rir da minha cara, me dar uma surra, dizer que tá decepcionado ou me expulsar de casa, aí não vou ser eu a ter o trabalho de me consolar hein.
Essa raiva não é raiva de ninguém além da Helen por me deixar levar por mim mesma e não fazer porra nenhuma porque sou filha da minha mãe, outra que não faz nada e só reclama e só diz coisa sem sentido. Puxou a mim a coitada.
Então a raiva não é de você, se eu disse ironia foi pra doer em mim tá? Porque eu preciso dessa raiva pra poder andar, não se preocupe porque eu te amo demais, amo de verdade, e vou levantar dessas cadeiras que eu sento enquanto você não senta em nenhuma, e vou agir e vou te ver, e vou te abraçar bem forte, porque eu inventei essa raiva toda pra não chorar e pra poder ser forte pra não deixar a gente cair, ainda mais cair separado.
Vou parar de ser morta e vou viver um pouquinho. Vou cuidar de você, mesmo que o homem de vermelho não tenha pedido nada, vou fazer de brinde pra ele se contentar quando ver a gente outra vez e pedir isqueiro emprestado.
Vou deixar de ser besta.
Sou Paraíba masculina também, porra.
E nada de comentar aqui estranhos, saiam.

3.12.11

A stranger in this town


Acabei de descobrir que perdi totalmente minha inocência. Fui me olhar no espelho e não achei mais a garotinha com dentes de leite que corria atrás dos pombos na Praça da Sé. Aquela que confunde papai com um estranho na banca de jornal e pede ao desconhecido uma revistinha Coquetel. Aquela que faz pose pra foto com os cisnes negros no Ibirapuera. Aquela que brinca de boneca sozinha em frente à tevê e quer ter a sandália da Angélica com óculos de coração.
Essa menina se descolou de mim, não é mais "eu". É o prólogo de uma Helen que está aqui há muito tempo, mas ainda assim estranha-se quando se olha no espelho no meio da noite.
Quem sou eu?