As pessoas dizem que quem vive de passado é museu. Mas tudo o que é vivo, vive no passado. Tudo o que acontece, fica no passado. Não fosse assim, o tempo não existiria e tudo seria o mesmo, e mais do mesmo, estático, parado. Mas o passado não existe. O passado passou, e tudo o que era sólido virou lembrança. Lembrança é abstrata, fosca, difusa. Lembrança falha, e pode ser confundida com imaginação.
As pessoas acham que vivem do futuro, pensam no futuro, se agarram nele como se fosse o único cipó firme o bastante para lhes salvar da areia movediça, mas é justamente ele, o futuro, que lhes afunda. Porque o futuro não existe, o futuro nunca chega.
Tem gente que acha que vive no presente, porque passado e futuro não existem. Mas o presente não existe, o presente se torna passado, e o próximo presente está no futuro. Está no meio de duas inexistências. Ele é rápido, mas tão rápido que nunca existiu. O presente não passa de expectativa transformada em memória. Você não consegue acompanhá-lo, é como querer ultrapassar a própria sombra.
Este tempo não existe.
O tempo é marcado pela pele, pelo tronco, pelas folhas verdes macias e resistentes, que se tornam marrons, secas e barulhentas.
O tempo é a velocidade do vento, a cor da água, o sabor da fruta, o cheiro da decomposição.
O tempo está nas coisas, o tempo não se move, ele transforma o ambiente.
Passado, presente, futuro, estes não existem, eles estão apenas no calendário. São apenas acentuações na língua da natureza que não modificam sua leitura.
Somos poeira no vento, somos a areia da ampulheta quebrada no meio do deserto.
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