26.12.11

Cálice


Eu gostaria de saber se os caminhos que podemos escolher são realmente infinitos.
Gostaria de saber se os poetas já vivenciaram o que compõem, ou se apenas observam e compadecem-se da dor do injustiçado. Porque dependendo das respostas, eu posso saber se ando, se espero, se vale a pena andar.
Se os poetas realmente sentem tudo isso que expõem para nós, apreciadores, o que lhes faz continuar vivendo e continuar lutando?
Acho que a resposta é a mesma para a minha crença política. Sei que nada vai mudar, que não vou guerrilhar nem mudar milhões de mentes mas, mas eu continuo acreditando, mesmo que como apenas utopia.
Acho que a resposta para a perseverança dos poetas, é a arte da qual se aproveitam.
A arte é a vida, a esperança, a fé. Se usássemos toda a nossa dor e indignação com desenhos, textos, melodias, poesia, artesanatos... Talvez, no momento da criação, houvesse uma luz... Uma luz colorida e extremamente brilhante, de um azul-lilás com leve toque de rosa-alaranjado do pôr-do-sol.
A arte é a solução. Pensar é arte. Sempre há tempo pra arte. É só não ter preguiça com a arte, nem má vontade com a arte. É só não achar que a arte requer tempo. Se o tempo é pouco, aceleremos sua construção. Se precisamos fabricá-la manualmente, procuremos material no ambiente em que nos encontramos no momento. Qualquer coisa. Se é escrito, cadernetas com palavras-chave ajudam. Bloco de notas. Gravadores para sons. Material que não deveria ir para o lixo - como papel, papelão, tampa de caneta, clips, copo de plástico - serve para infinidades de tramoias. Vamos construir a arte, e desconstruir a dor. Vamos desmanchar o ponto errado deste novelo para refazer a coisa do jeito certo, do jeito firme.
A arte sobrepõe a indústria, o comércio, a política, a economia, os esportes, os moralismos. A arte é a mãe para todo órfão perdido pelos centros tomados pela ditadura consumista e consumida.
Afasta de ti este cálice. Não cálice. Grite, grite em códigos pelo menos, mas o faça! A arte é o caderno mágico do artista, indecifrável para o carneiro que segue os porcos e cães. Viva arte. Respire arte. Pense arte. Ame a arte.
Sempre existem os dois lados. Ou mais de dois, porque vivemos num lugar rico em possibilidades. Vivemos cercados de opções, cenas, ações precedendo reações. E se há escassez, há também a invenção.
Porque vivemos.
Ainda. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário