Ano passado minha professora de Português - que mais dava uma de psicóloga exotérica do que literária PEB II - pediu licença e disse à todos o quão meu grupo era fechado para o restante da sala, e como eu entrava em uma casca que às vezes me fazia parecer antipática. Eu gostei na hora sabe. Ninguém nunca me diz direito o que acha, e quando eu pergunto muda de assunto ou diz, "ah, não sei...bem..". Mas acho que só hoje enquanto olhava as plantas no quintal pude entender.
Eu realmente sou um caranguejo sabe. É só ver gente que eu me escondo na minha casca, e percebo que hoje em dia, mesmo quando vão embora, estou tão distraída comigo mesma que fico lá dentro, no escuro, e nem vejo mais o mundo.
O tio Jaime da cantina da escola disse que eu tenho que gostar de mim primeiro, muita gente diz isso, mas o jeito que ele falou foi muito importante, sabe. Os abraços da professora Rose e da Elizete também foram muito bons, e os conselhos da menina Sara.
Eu tô muito no escuro, me lembro de tempos atrás quando fazia questão de ficar acordada pra ver o mundo e decifrar o céu, as árvores, as flores, as pessoas.
Hoje não aguento ficar mais acordada, eu durmo tanto quanto posso, tudo bem que quando estava em aula era por dormir tarde e acordar cedo, mas agora me forço a ter sono, eu não quero levantar porque não sei pra onde ir, o que fazer.
Não desenho há um bom tempo. Não escrevo coisas que me agradam, não quero mais escrever nada porque tudo me fere e não quero que ninguém saiba de alguma coisa, porque é como entrar na casca e colocar um tapete de "Bem-Vindo" na porta.
Eu era um girassol que mostrava a cara, e agora sou uma montanha que não quer dizer nada mas continua abrindo o bico.
Vi uma imagem, aliás duas, que me remetem vida e morte, e percebi que ainda amo minhas filosofias e histórias, que ainda me arde o coração ao pensar em Che, que Requiem para uma Flor ainda me dói deliciosamente, que ainda quero tocar baixo e que ainda adoro ver o céu.
Mas está difícil, enchi a entrada do meu cafofo escuro de quinquilharias e não vejo a luz do Sol direito.
Eu quero voltar, sabe. A ficar quentinha do lado de fora, a dar minha cara a tapa e fazer besteira, passar meu tempo livre lendo, ter vontade de ler, até minha Agatha Christie, tá difícil... Muito difícil...
De trabalhar estou gostando, exceto pelos problemas diários que não são nada quando comparados aos de outros, mas eu me distraio, sabe.
Só que não quero me distrair, quero me ocupar das coisas que eu realmente adorava, quero me importar com o mundo, continuar me achando diamante nas mãos de mendigos, quero ter menos raiva e ver as coisas coloridas, quero minhas pimentinhas do inverno, nossa árvore de sábado, alguns fins de semana de guitar hero na casa da Débora, mas como eu quero aquela árvore... As pimentinhas me puxavam o cabelo, o céu com o Sol e a Lua ensaiando um eclipse que não saía...
Pelo amor de Deus eu não quero mais dormir.
Me fecho muito no meu mundo, sempre achei que as pessoas fechavam as portas pra mim até perceber que eu mesma as fechava e com uma facilidade que até mesmo a mim era impercepitível. Tentei mudar. Não consegui. Sou assim mesmo do tipo que se vê uma porta corre logo pra fechar com medo do que pode sair dela. Não é só medo dos outros, é medo de si mesmo. Medo de acreditar em si e perceber que você não é nada daquilo. Me enfio numa bolha e posso até não ser feliz nela, mas me iludo acreditando que no momento em que eu quizer posso estoura-la e buscar a felicidade. Também não me culpo e parei de culpar os outros, afinal quem não vive em sua propria bolha? Todo mundo tem a sua, raro é quem tem consciência que vive em uma e que é preciso sair dela.
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